quinta-feira, 31 de março de 2011

Meu “Paitrão”


Em 1998 eu comecei a trabalhar na maior fábrica têxtil da America latina, e lá fiquei por quatro anos e meio। Ouvi falar do rapaz pobre que em pouco tempo se tornou um dos maiores empresários do país, trabalhei para ele sem que ele soubesse pelo menos o meu nome, orei por ele algumas vezes e me empolguei com sua biografia. O grupo “COTEMINAS” fundado pelo ex-vice-presidente do Brasil José Alencar foi o instrumento que Deus usou para que eu pudesse concluir meu seminário, lá eu aprendi a levantar de madrugada sem despertador, aprendi o que é 5S, conheci pessoas, fiz amigos, me tornei mecânico industrial, e por fim aprendi até pedir demissão.

O Brasil acabou de perder um grande empresário, um político celebrado pela ética, e eu me sinto na obrigação de deixar registrada minha gratidão pelo patrão que conheci de ouvir falar.

Hoje sou funcionário d’Aquele que julgará patrões e empregados, meu campo de trabalho é o mundo inteiro, continuo aprendendo muitas coisas, mas nada é tão importante do que aprender a viver pela fé. Fui promovido ao serviço de lavar os pés de quem anda comigo, sou desafiado todos os dias a ser como meu Paitrão; não trabalho em nenhuma empresa e meu Paitrão não é nenhum empresário. Hoje o meu Dono, sim O meu Dono, me chama de amigo, compartilha comigo sonhos, e coloca projetos em minhas mãos. Ele é o Pastor e o Agricultor, ah... Ele também é Pai, Rei, Juiz... Ele é Deus. Ele não aceita ser conhecido só de ouvir falar, Ele me chama pra mesa e me oferece um banquete todos os dias. Hoje recebo muito mais que mereço e não tenho nenhuma intenção de “pedir as contas”...

Jonatas Oliva

terça-feira, 15 de março de 2011

Ingratidão, triste ingratidão.


“De caminho para Jerusalém passava Jesus pelo meio de Samaria e da Galiléia. Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, que ficaram de longe e lhe gritaram dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós! Ao vê-los disse-lhes Jesus: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que indo eles, ficaram purificados. Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz, e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era samaritano. Então Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, por ventura quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.”

Lucas 17:11-19

Uma das primeiras coisas que meus pais me ensinaram na vida foi falar “muito obrigado”, pois segundo eles, agradecer seria sinônimo de ter educação, talvez por isso que minhas primeiras orações foram assim: “Papai do céu, muito obrigado pela vida do papai, da mamãe, do vovô, ... agradeço também pela vida do Bolinha (meu cachorro), ...”. No texto acima nós vemos Jesus lidando com dez leprosos, nove se destacaram pela falta de educação, pois ao serem curados da lepra não falaram nem um muito obrigado a Jesus e um se destacou pelo fato de voltar e agradecer pelo milagre recebido. Hoje eu não sei em que grupo me encaixaria melhor, pois parece que eu, assim como a maioria das pessoas do mundo, me esqueci de tudo o que os meus pais me ensinaram, e por mais que eu ore e agradeça a Deus pelo que Ele faz por mim tenho a impressão de que esqueci de falar um muito obrigado por algum presente recebido.

Estes dez homens que foram alvos da graça de Deus se assemelhavam em seus problemas. Todos eles eram leprosos, é claro que todos tinham uma história diferente, mas com certeza todos teriam o mesmo fim. Suas vidas se cruzaram pela catástrofe de uma doença que degenerava não só o corpo, mas acabava também com a alma, pois a rejeição era o alimento diário de cada um. Nenhum deles tinha razão de agradecer por nada e a ninguém, até o dia em que Jesus de Nazaré resolveu passar por ali.

Oportunidade é o tipo de coisa que não se pode perder na vida, pois talvez ela não se repita, e os leprosos sabiam disso, por isso bradaram, gritaram quando Jesus passou ali. Gritar pode não ser educado, mas quando se está numa situação em que a morte é a companheira mais próxima, gritar para chamar a atenção do Senhor da vida ganha status de bravura e persistência com a vida. O segredo para se alcançar o milagre é não desistir jamais, e é isso que esses dez leprosos nos ensinam.

O Pastor Jesus não estava insensível ao sofrimento daquelas dez ovelhas doentes, por isso, Ele pára, olha e vê aqueles homens desesperados pela vida. Essa atitude de Jesus revela sua sensibilidade e sua plena disposição em socorrer os aflitos e desesperançados, aqueles que a sociedade rejeita Jesus abraça e aqueles que a religião descarta Jesus toma para si e cuida.

Diferentemente dos outros milagres, Jesus não tocou nestes leprosos, Ele apenas deu uma ordem. A condição para serem curados era simplesmente obedecer à ordem de Jesus. A Bíblia diz que aqueles desesperançados começaram a caminhar rumo aos sacerdotes e a cada passo que davam a esperança ressurgia, pois cada passo em obediência correspondia a uma ferida a menos. Então no meio da caminhada os dez se olharam e perceberam que a lepra havia ficado no caminho, todos estavam curados e no calor da alegria apenas o samaritano, aquele que era duplamente rejeitado, resolveu voltar para celebrar o milagre.

Um grande problema requer um grande milagre e um grande milagre merece uma grande celebração. O samaritano que foi curado, agora assumia o posto de adorador visto que com a mesma intensidade que ele havia clamado ele agora voltava em plena adoração. Mas não vamos nos precipitar jogando pedras nos outros nove, antes avaliemos nossa real condição, será que não nos encontramos com eles no caminho rumo aos sacerdotes? Alguém poderia dizer, mas eles não estavam sendo obedientes a Jesus indo ao encontro dos sacerdotes? Sim, mas ser obediente não implica em ser ingrato. A gratidão a Deus nasce da espontaneidade do coração já a obediência é fruto do temor que nutrimos por Ele. E gratidão e obediência são coisas que não podemos separar na nossa caminhada. Voltar para celebrar não redundaria em desobediência, mas demonstraria a mais pura espontaneidade do coração refletida no simples ato de voltar e agradecer.

Dez foram os curados da lepra, mas somente um foi curado das feridas abertas pelo pecado. Somente o que voltou pôde escutar de Jesus: “Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.”. Talvez este seja o maior milagre desta história. Voltar para o caminho com esta frase no coração é a maior prova de que a vida em toda sua plenitude foi completamente restituída.

Jonatas Oliva

sábado, 12 de março de 2011

Pedido de oração


Terremotos, tsunamis, caos, vidas arrebentadas e coisas semelhantes. Quem diria que nossos olhos veriam cenas tão horríveis e apocalípticas como essas? O intestino do planeta começa se contorcer, e nós ainda não fomos arrebatados. Me pergunto se meus mestres estavam certo quando afirmavam com veemência em seus sermões que a igreja seria arrebatada antes do desfecho escatológico. Meu coração já grita MARANATA... Fico inquieto diante dos noticiários, ouço e vejo o mundo a minha volta com lenço na mão e carregando também a certeza que coisas piores estão por vir. Indonésia, Haiti, Chile, China, Japão já foram sacudidos nesse início de milênio ceifando milhares de pessoas, sei que não deveria me assustar com tudo isso, mas é difícil ver a terra engolindo gente, penso nas famílias esmagadas pelo concreto, oro pelos que terão que digerir suas perdas, oro pelas crianças que ficarão órfãs, oro pelas mães que tiveram seus filhos arrancados do colo pelo tsunami arrasador, oro para que as ONGs cheguem o mais rápido possível nos locais mais castigados pelo caos, choro diante da tragédia e peço a vocês que intercedam comigo por quem ficou.



Jonatas Oliva

sábado, 5 de março de 2011

Deus nos livre de um Brasil evangélico


Começo este texto com uns 15 anos de atraso। Eu explico। Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles, em avenidas, com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.
Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação, mas hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. A mensagem subliminar da grande placa, para quem conhece a cultura do movimento, era de que os evangélicos sonham com o dia quando a cidade, o estado, o país se converterem em massa e a terra dos tupiniquins virar num país legitimamente evangélico.
Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar "crente", com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).
Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.
Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?
Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?
Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.
Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.
Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?
Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.
Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.
Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.
Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.
Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.
O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.
Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.
Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.


Ricardo Gondim

Soli Deo Gloria

quinta-feira, 3 de março de 2011

Onde estão os poetas?


Onde estão os poetas?

Talvez estejam reaprendendo a observar as coisas simples para enxergarem na simplicidade as coisas profundas que somente pessoas profundas na simplicidade do ser podem ver e descrever.

Onde estão os poetas?

Será que estão sufocados pela superficialidade do nosso tempo? Não, definitivamente não! Pois os poetas não se deixam sufocar pelas agruras da geração que insiste em viver na periferia da vida concretando o coração.

Onde estão os poetas?

Chorando, sentindo, amando, sofrendo, pensando... Talvez estejam celebrando o que muitos decidiram abandonar: a roda gigante da vida que insiste em girar nos levando entre dois pontos.

Onde estão os poetas?

A caminho dos recônditos da alma insistindo sempre no percurso mais difícil, pois é no caminho mais difícil que se encontram as belezas mais transcendentes.

Onde estão os poetas?

Se vestindo com as flores, cantando com os pássaros e brincando com as estrelas.

Onde estão os poetas?

Eles estão por aí, é só procurá-los nos lugares certos.
Jonatas Oliva