Não são poucas
as vezes que me assusto com essa geração. A superficialidade relacional do
nosso tempo chegou a níveis tão rasos que dificilmente encontraremos amizades
que resistam às intempéries da vida, dificilmente encontraremos também uma fé
que não se abale diante de uma tempestade imprevista. Nosso relacionamento
horizontal e vertical foi profundamente afetado por essa superficialidade.
Adoecemos a ponto de não percebermos o quanto nossas relações estão próximas da
sepultura. É triste limitar o mundo a um simples compartilhar, comentar ou
curtir algo no facebook, pior ainda é pensar que verdadeiras amizades se
solidificam na tela de um computador. Mas, o que me deixa realmente apavorado é
perceber que essa doença relacional se espalhou como metástase em todos os órgãos
da vida, afetando em cheio o nosso relacionamento com Deus. Campanhas
infindáveis lotam os templos de pessoas vazias que se iludem com a proposta de
alcançar bênçãos imediatas colocando em prática uma fé que na verdade não passa
de uma moeda que tenta comprar o favor de Deus, as pessoas se esqueceram de que
não é Deus que está sujeito a nossa fé, é nossa fé que precisa estar sujeita a
Deus. O desinteresse pela bíblia, a supervalorização do gospel e as jihads
denominacionais e entre irmãos também refletem nossa crise.
Para quem deseja
realmente se aprofundar em um relacionamento sério e relevante com Deus eu
sugiro o investimento em quatro áreas da vida cristã e são elas:
I-
“A palavra” Ouvindo
Deus através da bíblia
Deus fala de
muitas maneiras e eu não duvido disso, mas Deus fala poderosamente também
através da sua Palavra. Aliás, a palavra de Deus é luz para os nossos caminhos
(Salmos 119:115), é a palavra de Deus que precisa ser guardada no coração
(Salmos 119:11), nós perecemos é por falta de conhecimento da palavra e do
poder de Deus (Mateus 22:29), é ouvindo a palavra de Deus que a fé se fortalece
em nosso coração (Romanos 10:17), é a palavra de Deus que nos fortalece, pois
segundo a visão que Deus revelou a Ezequiel cap. 02 e 03 a palavra precisa ser
digerida, precisa cair no estômago, ela precisa estar dentro de nos. É uma pena
que muitas pessoas hoje em dia prefiram se alimentar de revelações de profetas
mentirosos, oportunistas, muitas vezes imaturos que no fervor de suas emoções oferecem
um prato de profecias regadas a jargões simplistas que dificilmente alimentará os
anseios mais profundos da alma. Uma das coisas que tem gerado um esgotamento
espiritual repentino na vida de muitas pessoas é o tipo de comida com que elas
têm se alimentado. Se não ouvirmos Deus falar através de Sua palavra, toda vida
espiritual estará aquém daquilo que o Senhor deseja, nossa oração será apenas
composta de palavras soltas ao vento, nossa adoração será paupérrima e nossa
vida espiritual se definhará até morrermos de tanta fraqueza.
II-
“Oração”
Falando com Deus no silêncio do nosso quarto
Depois de ouvirmos
Deus falar sentiremos a necessidade de respondê-lo. Essa resposta muitas vezes
é dada em oração. Orar
na igreja é uma benção, o clamor coletivo às vezes é necessário, receber a
imposição de mãos juntamente com a oração da fé é preciso, mas não podemos nos
esquecer que um dos melhores lugares que existem para nos encontrarmos com o
Pai é no silêncio do nosso quarto (Mateus 06:06), lá nós somos o que realmente
somos e é nesse lugar que tem o nosso cheiro que o Pai quer que desvendemos os
segredos mais profundos do coração. Deus está pouco interessado no nosso
vocabulário, ou na introdução meio e fim de nossa oração, mas com toda certeza
Ele está muito atento a sinceridade que salta do nosso coração. É na intimidade
do nosso quarto que Deus quer ouvir a nossa voz, enxugar as nossas lágrimas e
nos levar a águas tão profundas a ponto de ficarmos extasiados com seu amor.
III-
“Adoração” Adorando
a Deus por tudo que Ele é, faz, fez e
ainda fará
Quando nos
encontramos com Deus é impossível não adorá-lo. Prostrar-nos diante daquilo que
Ele é, faz, fez e ainda fará é a primeira ação que temos quando somos tomados
pela consciência de sua presença. Agora o que precisamos entender é que a
adoração está para além do som produzido pela boca ou de algum instrumento. A
música, louvor (do hebraico halal, “barulho”) pode estar encharcada de adoração,
mas a adoração (do hebraico shachac, prostrar-se) nem sempre se manifesta através
de músicas, louvor. Uma das cenas mais marcantes de adoração no NT é quando uma
mulher sem proferir uma só palavra se lança aos pés de Jesus em profunda
reverência e os lava com suas lágrimas enxugando-os com seus cabelos e
perfumando todo ambiente com ungüento (Lucas 07:37...), isso é adorar! Eu não
sou adorador porque sou músico, sou adorador porque me prostro diante do Senhor
da vida. Muitas vezes assim o faço com um novo cântico em minha boca,
acompanhado de violões, guitarras, baterias e danças, porém em outras tantas
vezes me prostro no mais profundo silêncio reconhecendo a soberania de Deus sobre
todas as coisas.
IV-
“Comunhão” Não
estamos sozinhos na caminhada
Se lermos a
palavra todos os dias, orando em todo o tempo, adorando em toda e qualquer
situação, mas não amarmos o nosso irmão, estaremos caminhando para o inferno
ajoelhados, com os olhos fechados e com a bíblia debaixo do braço. Não há
possibilidade de andar na luz odiando nossos irmãos na fé ( I João 03).
Precisamos amar quem Deus ama, simples assim. Não existe cristianismo solitário
e se queremos nos aprofundar num relacionamento sério com Deus não podemos
nutrir ódio por ninguém que é alvo da sua graça. Se depender de nós precisamos
ter paz com todos, fazendo com que nossa identidade seja o amor. Não podemos
fugir da bacia e da toalha, lavemos os pés uns dos outros, pois a caminhada é
longa e todos nós sujamos os pés em algum momento do percurso.
“A
superficialidade é a maldição de nosso tempo. A doutrina da satisfação
instantânea é antes de tudo, um problema espiritual. A necessidade urgente hoje
não é de um maior número de pessoas inteligentes ou dotadas, mas de pessoas
profundas.” Richard J. Foster
Jonatas Oliva
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