terça-feira, 16 de março de 2010

Celebrar também é viver


Viver é um grande desafio, mas convenhamos, é um desafio gostoso. Mesmo diante de todo caos à nossa volta, ainda encontramos no meio dos escombros da existência belezas inenarráveis que precisam ser celebradas. Na minha caminhada tenho celebrado grandes amizades que se fortalecem com o tempo e que se eternizam em cada conversa, em cada sorriso, em cada lágrima, em cada ósculo de sinceridade. Também tenho aprendido a celebrar o privilégio de andar com pessoas das quais o mundo não é digno, pessoas que no anonimato fazem proezas e no silêncio pregam com a intrepidez de seus atos. Celebro até as dores na digestão das perdas, não há beleza em perdas, mas são com elas que aprendo a grande lição de que também terei um fim. Celebro a arte que não se prostra diante do panteão da moda e não se emoldura ao apelo da superficialidade do nosso tempo. Enquanto eu viver celebrarei meus encontros com Deus entre as quatro paredes de meu quarto, celebrarei também os encontros humanos que me fizeram convergir à verdadeira felicidade. Amo a Vida em um fluxo constante de reciprocidade.
Jonatas Oliva

quarta-feira, 10 de março de 2010

Mão ressequida e corações ressequidos



“Em outro sábado entrou na sinagoga, e estava ensinando. Ora havia ali um homem cuja mão direita estava ressequida. Os escribas e fariseus observavam-no para ver se o curaria no sábado, a fim de acharem de que o acusar. Mas ele lhes conhecia os pensamentos, e disse ao homem que tinha uma das mãos ressequidas: levanta-te, e põe-te em pé no meio. E levantando-se ele ficou de pé. Então Jesus lhes disse: que vos parece? É lícito no sábado fazer o bem, ou fazer o mal? Salvar a vida ou destruí-la? Olhando para todos em redor, disse ao homem: estende a tua mão. Ele assim o fez, e a mão lhe foi restituída sã como a outra. Ficaram cheios de furor, e uns com outros conferenciavam sobre o que fariam a Jesus.”

Lucas 06:06-11

Se alguém me perguntasse hoje qual é a pior doença que existe, mesmo sem ser médico eu diria com toda a certeza: é a doença da alma. Eu não digo isso somente porque sou pastor, eu digo baseado no que acredito em termos de eternidade. Este texto traz a tona o grande problema do ser humano que é a sua enfermidade da alma, e ao falar da alma concomitantemente se fala de eternidade. Mão ressequida se limita à esfera terrena, mas coração ressequido tem implicações eternas. Eis aí o sério problema em questão.

Era sábado o dia em que Jesus entrou naquela sinagoga para ensinar. E entre todos que o ouviam um se destacou, não pela sua posição social, pela sua beleza ou pela sua religiosidade, mas ele se destacou por um incômodo problema em sua mão direita. Não se sabe muitas coisas sobre esse homem, apenas que era alguém que estava com uma enfermidade na mão, e se ele estava ali, provavelmente estava também interessado em ouvir o que Jesus falava. O homem da mão ressequida estava em silêncio, ele não pediu nada, não clamou por Jesus como o cego Bartimeu, não se lançou aos seus pés em súplicas e em adoração como o leproso, não tocou nas orlas de suas vestes como a mulher do fluxo de sangue e nem se humilhou como a cananéia pedindo as migalhas que caiam da mesas do seu Senhor. Ele simplesmente estava lá e isso foi o suficiente para que Jesus o percebesse. Na verdade esse texto é impróprio para se falar do esforço humano de se alcançar bênçãos, talvez poucos o usariam para fazer uma grande campanha de curas e milagres, visto que os únicos esforçados aqui são exatamente aqueles que procuravam achar um jeito de acusarem Jesus.

Alem do homem enfermo de sua mão direita à bíblia diz que estavam ali os enfermos de coração: escribas e fariseus. A doença daqueles homens estava tão avançada que nem no dia de descanso eles paravam de perseguir o Mestre, queriam a todo custo pega-lo em alguma falta para o acusarem. Eles não estavam interessados em ouvir Jesus, muito menos se interessavam com o problema do homem da mão ressequida. A religiosidade alimentava o câncer da alma de todos eles. Os escribas e fariseus não percebiam o perigo da doença que os consumia. Eles estavam quase entrando em óbito devido à insistência em não aceitar o Senhor da vida.

Jesus não se importou com a repercussão de um milagre naquele dia de descanso, mesmo vendo o que se passava no coração dos escribas e fariseus, pois para Ele a vida era infinitamente mais importante do que qualquer avaliação humana. “Levanta-te e põe-te em pé no meio”, foi o que disse Jesus para o homem da mão ressequida, e o homem imediatamente obedeceu, e depois de fazer algumas perguntas para todos que o ouviam inclusive para os seus perseguidores desalmados, ele pediu para que o homem estendesse sua mão e mais uma vez o homem obedeceu e naquela mesma hora a mão que estava ressequida foi completamente restaurada na frente de todos. Um milagre havia acontecido.

Depois de uma reunião tão abençoada como aquela o lógico seria que todos saíssem dali mais certos de que Jesus era realmente o Messias prometido, mas não foi isso o que aconteceu. Os enfermos da alma ficaram enfurecidos em seus corações ressequidos. Nem mesmo vendo com os próprios olhos o milagre que acabava de acontecer eles cederam. A doença estava avançada demais, por isso não tiveram o mínimo de sensibilidade para adorar ao Mestre, pelo contrário depois de tudo que havia acontecido eles se ajuntaram para tramar a morte de Jesus. O enfermo da mão foi milagrosamente curado, mas os enfermos de coração rejeitaram a cura por não perceberem que estavam doentes e muito próximos do óbito da alma.


Jonatas Oliva
Por que não podemos ser o juiz do nosso próximo?

Porque não sabemos o que está acontecendo entre Deus e o coração de ninguém

Porque não somos misericordiosos o suficiente

Porque com a mesma medida que julgamos seremos julgados

Porque as aparências enganam e geralmente julgamos pelas aparências

Porque fomos chamados pra sermos apenas testemunhas de Cristo

Porque discernimos apenas os atos, jamais as intenções

Porque quase sempre julgamos para condenar e quase nunca para absolver

Porque nos encontramos constantemente no banco dos réus

Porque não somos oniscientes

Porque não amamos o nosso próximo como a nós mesmos
Jonatas Oliva

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A Felicidade na contramão do mundo



Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos: e ele passou a ensiná-los, dizendo: Bem-aventurados (felizes) os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados (felizes) os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados (felizes) os mansos porque herdarão a terra. Bem-aventurados (felizes) os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados (felizes) os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados (felizes) os limpos de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados (felizes) os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados (felizes) os perseguidos por causa da justiça porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados (felizes) sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem, e mentindo disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que vieram antes de vós.
Mateus 05:01-12

Todos os homens querem ser felizes. Ninguém se esforça na tentativa de ser infeliz. Os atos mais nobres como o altruísmo até os atos mais insanos como o suicídio na verdade representam o esforço de cada um na busca daquilo que satisfaz o anseio mais profundo do coração. Felicidade é o alvo de todos os crentes e descrentes, santos e ateus, doutos e intelectuais, brancos, negros, mestiços... Todos se acham no direito de serem felizes. Mas o que é felicidade? Será que todos sabem o que realmente procuram? E porque existem tantas pessoas infelizes? Será que existe um caminho que conduz o homem para a felicidade? Acho que existem muitas perguntas sobre esse assunto nos porões de cada coração. Então vamos ouvir o que Jesus tem a dizer sobre isso:
A verdadeira felicidade se debruça sobre aquilo que o homem é e não sobre aquilo que ele possui. Felicidade tem a ver com o que somos: feliz é o humilde, o chorão, o manso... Segundo Jesus, ser é melhor que ter. O consumismo já foi considerado um caminho para a felicidade até o dia que o homem se cercou de tudo o que podia e mesmo assim percebeu que a infelicidade continuava sendo a companheira mais próxima, felicidade não se compra. Dinheiro pode gerar conforto, mas com certeza não satisfaz os anseios mais profundos do coração.
A verdadeira felicidade supera a alegria. Alegria é um sentimento bom, mas não deixa de ser um sentimento passageiro, já a felicidade é um estado contínuo de paz. Podemos chorar mesmo sendo felizes como também podemos sorrir mesmo estando envoltos num estado de completa infelicidade, e com certeza existem muitos sorrisos amarelados por aí. A felicidade independe de circunstâncias por isso: feliz é aquele que é perseguido por causa da justiça e feliz é aquele que tem o privilégio de sofrer por amor a Cristo.
A verdadeira felicidade não se encontra na periferia da existência, mas no centro de cada ser. A felicidade não está do lado de fora, mas no lado de dentro de cada um de nós. Precisamos estar reconciliados com Deus para estarmos bem resolvidos com agente mesmo. Feliz é aquele que tem essência em si, e essa essência só pode ser gerada por Deus, pois somos por natureza arrogantes, gostamos de uma boa briga, somos vingativos e pouco misericordiosos para com aqueles que nos machucam. Na verdade somos a antítese das bem aventuranças. Só Deus pode gerar alguma coisa boa no nosso interior.
A verdadeira felicidade é presente, pois os desdobramentos do futuro já nos foram revelados. A felicidade não é algo que conquistaremos num futuro escatológico, mas sim uma realidade presente, vivida agora, hoje e já. Sabemos o que nos espera amanhã por isso temos paz no dia de hoje. Amanhã será um dia de consolo, posse de heranças, de fartura, de descobertas sobre o Divino, de entrega de galardão. Pessoas felizes sabem até morrer, pois nem a dor da morte ofusca a glória que a de ser revelada na vida daqueles que partem com Cristo.
Ser feliz é andar na contramão do mundo. Jesus é o Caminho e só Ele pode nos conduzir a fonte da felicidade. Quem quiser chegar nessa fonte é só seguir as pisadas do Bom Mestre, e mesmo que tenhamos que abraçar uma cruz no meio do percurso, mesmo que tenhamos que regar essa estrada com lágrimas, podemos descansar em paz, pois o Príncipe da paz não se frustrou com oposições nem mudou sua rota para fugir do Gólgota, Ele chorou, amou, exerceu misericórdia, e hoje está a destra de Deus. Ser feliz é andar com Jesus.
Jonatas Oliva

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Definitivamente...

Oração não é reza
Púlpito não é palco
Oferta não é cachê
Adorador não é estrela
Adoração não é show
Pastor não é animador de palco
Triunfo não é sucesso
Dízimo não é mensalidade
Igreja não é a placa
Unção não é gritar
Converter não é levantar a mão na igreja
Prosperidade não é riqueza
Pobreza não é falta de riqueza
Fé não é a moeda que compra Deus
Doutrina não são usos e costumes
Perdoar não é ter amnésia
Felicidade não é alegria
Renovo não é reforma
Deus não é o gênio da lâmpada mágica

Jonatas Oliva

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

2012, por quê? 2010 está aí!


O ano de 2010 começa com uma das maiores catástrofes da história, o terremoto no Haiti não se limitou ao chão haitiano, a tragédia transcendeu ao abalo sísmico. O caos se instalou elevando na máxima potência o que já era desgraçadamente sofrível entre a população mais pobre da América. A miséria que já era prevalecente entre eles agora ganhou ares apocalípticos. E em meio a esse cenário esmagador algumas coisas se tornam completamente perceptíveis para mim.
Primeiro: o que notei é que o mundo hollywoodiano se sensibiliza mais que o mundo religioso. A mobilização eclesiástica diante das catástrofes é vergonhosa, o máximo que se faz é orar e lembrar aos fiéis de que o tempo do fim se aproxima com o simplismo que cobre o pensamento de quase todo o universo escatológico, mas a ação se limita a pequenos grupos cristãos altruístas que ainda choram com alguma coisa. “Estamos preocupados demais com nosso umbigo para olharmos para o umbigo do próximo, afinal de contas precisamos de avivamento em nossas igrejas, o show não pode parar!” É o que se diz em Atos pelas quatro paredes da religiosidade.
Segundo: as mortes causadas pelos destroços de concretos não foi o ápice do caos, o pior está acontecendo agora. As pessoas não perderam apenas famílias, elas perderam o acesso ao básico, que por sua vez já era escasso antes do terremoto. Andar em meio a corpos putrefatos espalhados pelas calçadas é tão terrível quanto tentar achar água potável e um punhado de alimento no meio dos entulhos do que um dia foi alguma coisa. Para boa parte da população haitiana não houve tempo nem de chorar os mortos, pois sobreviver passou a ser o grande desafio de todos eles.
Terceiro: existe uma turma religiosa idiotizada por aí que acredita e até celebra essa tragédia como se isso fosse uma intervenção divina como ato de juízo. “deus” segundo eles estaria furioso, por isso escolheu uma das populações mais pobres do planeta para despejar sua ira, esse “deus” é capaz de fazer tremer a terra só não é capaz de se sensibilizar em seu coração, aliás, os homens do planeta estão dando uma lição de bondade e amor com suas doações a essa divindade carrancuda e insaciável que precisa sempre mostrar o seu poder através de catástrofes naturais.
Quarto: percebo que tragédias como essa tem o poder de ressuscitar os sentimentos mais nobres dos corações ainda humanizados. A mobilização começa a se espalhar pelo mundo afora, e então notamos que de alguma forma podemos amenizar uma dor que é quase inexpurgável. Como posso ajudar? Pelo menos isso muita gente se perguntou, espero que encontremos uma resposta a tempo, pois o tempo não espera.
Jonatas Oliva