quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Súplica reeditada
Ricardo Gondim

Pai nosso e dos exilados, dos deprimidos, das meninas vendidas à prostituição, dos curdos, das aeromoças, dos ianomâmis, dos carvoeiros, das juízas, dos mineradores chineses, dos médicos legistas, dos cabelereiros, das noviças, dos poetas, das atrizes, dos teólogos, das massagistas, dos meus filhos e netos, dos ateus, das motoristas de ônibus, dos carcereiros.

Que estás no céu, na terra, no vácuo, no hades, no patíbulo, na floresta, na sala de hemodiálise, no cabaré, na UTI, no acampamento dos sem-terra, na catedral, na sala de tortura, no asilo de velhos, no botequim, no matadouro, no quartel, na ambulância, no escafandro, no aeroporto, no palco, na piscina, no hospício.

Santificados sejam o teu nome, a ideia que fazemos de ti, o livro que escrevemos sobre ti, a música que cantamos sobre ti, os planos de paz que organizamos pensando em ti, a mulher que tocamos por seguirmos a ti; e o futuro que sonhamos por ousarmos te chamar de Pai.

Venha o teu reino. Sentimos a urgência não de ir até aí, mas de demonstrar aqui neste planeta diminuto a aspiração que está no além. Queremos nos enraizar neste chão para fazer algo novo, algo que se sobreponha ao que já se construiu na história. Acontece que somos inadequados, claudicantes e egoístas. Incentiva-nos a querer mostrar lampejos do que seria a vida se vivêssemos, minimamente, teus valores. Faze-nos subversores do inexorável, sabotadores das sinas, revolucionários do amanhã. Precisamos da esperança que desvela outra realidade, outro mundo, outra forma de viver.

Seja feita a tua vontade na terra como ela é feita no céu. Desde a criação decidiste que homens e mulheres tomariam os rumos da história. Tu assinalaste a eles a responsabilidade de disseminar bondade e não crueldade, equidade e não injustiça, criatividade e não opressão, liberdade e não escravidão. Anima-nos para que possamos incubar vida, parir oportunidade, perenizar o bem e assim estreitar esse abismo que nos separa de tua morada.

O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, mas que este pão nos alimente física, emocional e espiritualmente. Não nos deixe satisfeitos com a ração que nos apequena em nossa humanidade. Temos fome de sentido, carecemos de afetos, ansiamos por beleza, desejamos transcendência. Dá-nos gula de palavras; e que as palavras, transformadas em versos, nos saciem de eternidade. E que as parábolas, temperadas de metáforas, se transformem no banquete que nos salva no dever inclemente de sobreviver, só sobreviver.

Perdoa a nossas dívidas bem como as ofensas grosseiras de quem ataca a adolescente, o homossexual, o pobre, o negro, o cigano, o gari, o porteiro, a babá, o garçom, o pedreiro, o trovador, a enfermeira, a maria-ninguém. Somos cruéis uns com os outros, lentos em reconhecer a dignidade alheia. Mordazes, desaprendemos a respeitar dores. Inclementes, desonramos sonhos. Insensíveis, não paramos para ouvir queixas. O perdão nos livra dos grilhões que nos aferramos com o endurecimento. Precisamos de misericórdia, antídoto que nos salva do veneno que tentamos inocular nos outros. Falta-nos a percepção que revidar só expõe a soberba de nos achar melhores e mais privilegiados que os demais.

Assim como perdoamos aos nossos devedores, não nos deixa aspirar de ti nada além do que fazemos pelo próximo. Não te sintas obrigado a nos absolver mais do que absolvemos, a nos compreender mais do que compreendemos, a nos proteger mais do que protegemos. A régua que medirmos deve ser a mesma que esperamos ser aferidos. Que nossa balança não se vicie. E que nós nos identifiquemos no próximo, única forma de amá-lo.

Não nos deixe cair em tentação. Livra-nos do mal, que é a desgraça de cobiçar poder, honra e glória. Lembra-nos: cobiçar poder transforma anjo em diabo e homens em demônios. Que não nos iludamos com caminhos largos, com brilho intenso ou com segurança de riqueza sem fim. Desperta-nos para a vida do Nazareno que desprezou valer-se do divino em sua árdua trilha humana. Sem apelar para poderes sobrenaturais, ele se fez gente. Foi grande porque não fugiu da morte estúpida e banal que os opressores lhe impuseram. Dá-nos a serenidade de não nos seduzir pela mentira de que existe outra senda senão a que ele escolheu.

Amém.

Soli Deo Gloria

sábado, 24 de dezembro de 2011

2012 nos espera...


O mundo começa a ganhar outra cara: Bin Laden se foi, os ditadores no Oriente Médio estão entrando em extinção, os países emergentes ganham as primeiras páginas dos jornais, a Europa já não é mais como antes, o Facebook virou febre, a morte de Steve Jobs deixou uma geração inteira com a sensação de orfandade, o Brasil deixou de ser referência no futebol, corrigir o filho deixou de ser sinal de amor e passou a ser considerado crime, EUA assumiu não ser onipotente, o CQC não terá mais Rafinha Bastos e nem Danilo Gentili como seus integrantes, Silas Malafaia se tornou o porta voz da “igreja evangélica no Brasil”, as favelas do Rio de Janeiro estão se pacificando, o mundo inteiro começa a cantar uníssono: “ai se eu te pego... ai ai se eu te pego...”e Fátima Bernardes não apresentará mais o Jornal Nacional.

A nova cara do mundo é tão velha quanto o próprio mundo. Algumas coisas mudam de lugar, mas continuam sendo o que sempre foram. A humanidade continua a mesma e caminhando para o mesmo lugar, os pecados se repetem, os esforços altruístas das minorias continuam, os avanços na direção do bem continuam a passos de tartaruga, a ganância dos homens continua sendo a engrenagem que move a sociedade, a arte continua sendo arte, os insubstituíveis continuam lotando os cemitérios, a TV continua a mesma com suas programações enfadonhas, e assim caminha a humanidade.

Eu estou no mundo e reconheço que não posso encarar um novo ano sem a pretensão de melhorar, preciso de uma nova cara, mas não quero me parecer com esse mundo. A proposta do evangelho é que nos pareçamos com o Mestre, por isso nesse ano de 2012 pretendo amar mais, pretendo também não me embaraçar nos arames farpados da amargura, nesse próximo ano quero enxergar com os olhos da graça, quero amar o que Deus ama e odiar o que Ele odeia, pretendo me doar às causas nobres, e me esforçarei para não perder o coração no tempo que me resta. Não sei o que me espera no ano de 2012, contudo não pretendo ser surpreendido ao me olhar no espelho e perceber que me tornei tão diferente de Jesus.

Um bom ano a todos!


Jonatas Oliva


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Os meus líderes


Infelizmente nos dias de hoje os meus referenciais de liderança tem se reduzido a poucas pessoas que considero como realmente relevantes. Sinto-me extenuado diante dessas lideranças que precisam de um holofote, uma câmera, um microfone ou uma grande multidão para exercerem a autoridade profética, alias, são poucos, muitos poucos aqueles que não mercadejaram a própria alma e ainda tem alguma autoridade profética para exercer. O sucesso dos mestres da mídia evangélica já deixou de me cativar a tempos. Não me iludo com esses números mirabolantes que envolvem cruzadas milionárias em nome de Deus, pois se essas cruzadas traduzissem a realidade de conversão, o Brasil inteiro e parte do mundo já estariam convertidos ao evangelho. Tenho me deparado com excelentes pregadores, cantores, administradores, animadores, empreendedores... Mas confesso que tenho garimpado muito para achar bons pastores, adoradores despretensiosamente santos, homens e mulheres que consigam ser relevantes mesmo quando não são observados ou aplaudidos pela multidão.

Felizmente nem tudo está perdido. Ainda existem pessoas entre nós do qual o mundo não é digno, e são essas pessoas que, mesmo sem ser celebradas pela crescente multidão gospel, arrancam de mim uma gratidão eterna e um desejo enorme de caminhar na contramão do mundo. Boa parte dos meus referenciais de liderança provavelmente não serão lembrados nos estudos da História da Igreja e nem serão mencionados como heróis da fé. Mas não tem problema, acho que eles mesmos ficariam desconfortáveis com os aplausos dos homens. Muitas dessas pessoas que me discipularam e ainda me discipulam na vida não sairão do anonimato e a certeza que rasga meu coração é que na eternidade cada uma receberá a coroa de glória que está prometida por Aquele que galardoará cada um segundo o seu trabalho. Os meus referenciais na vida são na verdade grandes presentes de Deus que procurarei cultivar para sempre no meu coração e imitá-los na minha caminhada.


Jonatas Oliva

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Se servindo para servir



Deixando Ele a sinagoga, foi para casa de Simão. Ora, a sogra de Simão achava-se enferma, com febre muito alta; e rogaram-lhe por ela. Inclinando-se Ele para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou; e logo se levantou passando a servi-los. Ao por do sol , todos os que tinham enfermos de diferentes moléstias, lhos traziam, e eles os curava, impondo as mãos sobre cada um. Também de muitos saiam demônios, gritando e dizendo: Tu és o filho de Deus! Ele porém os repreendia para que não falassem, pois sabiam ser Ele o Cristo.

Lucas 04: 38-41

O que é uma febre diante de uma possessão demoníaca? Ou o que é uma “febrizinha” diante de uma lepra? Isso é o que muita gente pensa olhando para esse texto, visto que ele se encontra entre duas histórias tensas, onde o milagre se manifestou entre os destroços de pessoas completamente arrebentadas. Gostamos de categorizar as dores e criar o “top dos dez piores sofrimentos”. Ainda bem que com Jesus não é assim! Lepra não é um problema maior do que uma rejeição, Ele dá atenção a um coxo, mas também cura um gago, ele expulsa demônio de um jovem, mas cura também a febre de uma mulher. Pra Jesus nossa dor sempre é dolorida, independente de ser metástase ou não. Por isso Ele dá atenção a todos nós sem questionar se temos ou não motivos para chorar. Ele enxuga nossas lágrimas, Ele nos pega no colo se arranharmos ou se nos quebrarmos ao cair dos penhascos da vida.

A sogra de Pedro estava com uma febre que poderia matá-la, logo ela se tornou alvo da intercessão de alguém, e na vida também é assim. Nem sempre os enfermos conseguem gritar ou se arrastar entre a multidão, às vezes se faz necessário que um amigo peça por quem desfalece. O intercessor tem sempre o seu lugar na história, quem intercede se parece com Cristo e talvez uma das maiores necessidades da igreja não seja de pessoas mais inteligentes, mais ricas, mais poderosas; talvez uma das maiores necessidades da igreja seja de pessoas capazes de se compadecer com a dor alheia e interceder com a intensidade de quem ama de verdade.

Jesus se inclinou para a mulher e deu ordens para que a febre fosse embora e a febre a deixou, pois a voz de Jesus é mais poderosa que qualquer anti-térmico que venha a ser desenvolvido. A mulher que estava morrendo de febre de repente se levantou e passou a servir a Jesus e a todos que estavam ali. Ela se serviu da graça para poder servir o Senhor da graça. Seria bom se todos que um dia se serviram da graça de Deus tivessem essa mesma atitude da sogra de Pedro, mas infelizmente não é assim na maioria dos casos. Boa parte das pessoas que são tocadas pelas mãos de Jesus se enclausura em suas ambições e se tornam demasiadamente vagarosas no serviço cristão. Passar a servir depois de ser servido é a grande lição que precisamos aprender. Jesus nos serviu, agora resta-nos abraçar a bacia e a toalha e servirmos uns aos outros em amor.

O aroma da graça se espalhou de uma forma tão rápida naquela cidade e em suas redondezas que em pouco tempo a casa que abrigava uma mulher que jazia em febre e foi curada, de repente foi tomada por enfermos e endemoniados de toda natureza. Jesus atraia multidões porque amava, Ele sempre se compadeceu daqueles que vagueavam de um lado para o outro como se fossem ovelhas sem pastor. Aquela casa se transformou em um hospital porque o Médico dos médicos estava ali. O Jesus dos evangelhos tem esse poder de mudar o ambiente, trocando o desespero pela esperança, matando a morte e gerando vida, expurgando o ódio e semeando a paz.

Jonatas Oliva

quinta-feira, 10 de novembro de 2011


International Christian Concern pede oração urgente pelo pastor preso Youcef Nadarkhani que recebeu a notificação de que será executado sob a acusação de "apostasia" - a conversão do islamismo para o cristianismo - e aguarda agora o veredicto final do tribunal.

O pastor Youcef Nadarkhani, líder da igreja em Rasht, no Irã, foi preso em 13 de outubro de 2009 por questionar a prática de educação islâmica de estudantes cristãos - incluindo seus próprios filhos – que obriga a leitura do Alcorão na escola. Sua execução, inicialmente prevista para 24 de outubro, foi adiada para uma data desconhecida pelas forças de segurança na esperança de que Youcef renunciasse a Cristo e voltasse ao islamismo. Uma vez que o veredicto final do tribunal é entregue, o pastor Youcef terá 20 dias para recorrer ao Supremo Tribunal Federal.

A esposa do pastor Youcef, Fatemeh Passandideh, foi presa em 08 de junho e sentenciada à prisão perpétua. No entanto, depois de uma apelação, ela foi liberada após uma audiência dia 11 de outubro. Embora sua esposa tenha sido absolvida, é improvável que o seja concedido o mesmo ao marido pois a sua atividade cristã era mais proeminente e sua acusação mais grave.

Em uma carta à comunidade cristã internacional, o pastor Youcef tomou coragem e consolou os cristãos ao redor do mundo: "O que temos hoje, é uma, mas não insuportável situação difícil, porque Ele não nos prova mais do que a nossa fé pode suportar... Devemos considerar essas situações e as prisões como uma oportunidade para testemunhar o Seu nome."

Ore para que o pastor Youcef Nadarkhani encontre coragem e confiança no Senhor. Ore também para que se for vontade de Deus, ele seja liberado e se não, que ele exemplifique a Cristo e dê glória a Deus em seu chamado para sofrer pelo nome de nosso Salvador.

Ore pela esposa do pastor e seus dois filhos para que Deus sustente-os durante este período de grande provação. E que eles permaneçam firmes na fé e perseverem em face da tirania e da perda.

Ore pelos cristãos iranianos para que não sejam intimidados ou se cansem, mas compartilhem o Evangelho com coragem e procurarem orientação do Senhor e a graça diariamente.

Lembre-se dos presos, como se estivésseis presos com eles, e aqueles que são maltratados como se vocês estivessem sofrendo. Hebreus 13:3, NVI

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

E Jesus entrou no templo


“Entrou Jesus no templo, e expulsou a todos que vendiam e compravam, e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: a minha casa será chamada casa de oração, mas vós a tendes convertido em covil de ladrões. Vieram ter com ele no templo cegos e coxos, e ele os curou. Vendo então os principais sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia, e as crianças clamando no templo: Hosana ao filho de Davi, ficaram indignados. E perguntou-lhes: ouves o que estes dizem? Respondeu-lhes Jesus: sim, nunca lestes: da boca de crianças e pequeninos tiraste o perfeito louvor? E deixando-os, saiu da cidade para Betânia, onde passou a noite.”

Mateus 21:12-17

O templo onde Jesus entrou era o lugar para onde se convergiam os religiosos judeus e seus simpatizantes, esse também era o endereço onde se concentrava quase todo comércio religioso judaico. O templo pode ser muita coisa dependendo de quem esteja lá: ele pode ser um grande comércio se lá estiverem comerciantes e compradores, pode também ser um maravilhoso clube social se lá estiverem os associados, o templo pode até ser uma empresa se nela estiverem seus diretores e seus empregados. Definitivamente, o que faz do templo o lugar de oração não são as paredes, sua história ou sua placa, são as pessoas que o habitam que tem o poder de torná-lo sagrado ou profano. Quando Jesus entrou no templo Ele percebeu que aquele lugar estava fétido, Deus não estava ali. O próprio Cristo disse que é impossível servir a dois senhores, nesse caso ou Jesus entrava e os cambistas saíam ou os cambistas ficavam e Ele saía. Jesus ficou e limpou todo o ambiente. A grande verdade é que Ele deseja fazer isso nos templos, sejam de pedras ou sejam de carne, seja na organização ou seja no organismo a faxina precisa acontecer.

Depois de limpo o que era concentração de ladrões se tornou numa grande concentração de fé e milagres. Deus tem esse poder de transformar ambientes. Os ladrões deram lugar aos doentes e aí sim o templo voltou a ser o que nunca deveria de ter deixado de ser: Casa de oração, Templo da misericórdia o lugar onde a graça de Deus é derramada de forma abundante. Os necessitados só encontrariam refúgio num lugar onde Jesus estivesse presente e reinando. Os cegos e os coxos não estavam ali pela beleza do lugar e sim pela grandeza do Nazareno.

Com Jesus no templo os doentes foram acolhidos e as crianças se tornaram em referência de adoração. Talvez por isso muitos religiosos se esforcem para colocar Jesus do lado de fora do templo e até de suas vidas, pois a presença de um Deus que não mercadeja á fé incomoda quem precisa comercializar até a alma do povo. Jesus se indignou vendo o templo se transformar em covil de ladrões e os ladrões se indignaram ao ver Jesus transformar o covil em templo. Naquele dia as crianças entraram no templo e deram aula para sacerdotes, escribas e levitas, e o grito que elas fizeram ecoar entre aquelas paredes derrubou a fortaleza da religiosidade que para nada prestava, a não ser para alimentar a ganância de quem lucrava com o que não é comercial.

Jonatas Oliva